A lenda das águas que curam males ou tornam jovens quem delas bebe ou nelas se banha teria surgido no norte da India. Atravessou continentes, oceanos e, através dos séculos, ganhou variadas versões. E, ainda nos dias de hoje, continua a execer fascínio sobre nós.
Quem tem, sabe. Basta uma piscina para se dispor ao alcance da mão, de uma espécie de fonte da juventude. É impossível das umas braçadas, ensaiar uns mergulhos, estirar-se ao sol e não esquecer os problemas, o estresse cotidiano, o trânsito caótico, a cotação da bolsa. Enfim, sentir-se remoçado. Tanto é assim, que, ao se referir à lenda da fonte da juventude, o pintor alemão Lucas Cranach, o Velho, famoso pelos retratos que fez de seu amigo, o reformador Martinho Lutero, não teve dúvidas e a representou como uma piscina repleta de banhistas. É um quadro sugestivo, com a magnífica paisagem na parte superior e, no primeiro plano, uma grande piscina ladeada de degraus, com uma coluna - e uma pequena estátua - ao fundo. À esquerda, pessoas idosas e doentes chegam em carroções e padiolas. Entram na água e então se dá o milagre do rejuvenescimento. Os sinais do tempo se perdem e voltam a ser jovens.
Cranach aludia a um dos grandes mitos da humanidade, um tema recorrente, que tanto comparece na mitologia suméria quanto na grega. Afinal, a juventude é mais preciosa que o mais precioso dos metais, já que o ser humano, empreendedor por natureza e apegado à vida, nunca aceitou a velhice e a morte. Personagens como Dorian Gray, do irlandês Oscar Wilde, fazem qualquer tipo de pacto para não envelhecer. No clássico sumério "Gilgamesh", do 3º milênio a.C., a mais antiga obra literária conhecida, o herói de mesmo nome procura uma fonte milagrosa que cura e torna imortal. E Pausânias, geógrafo e historiador grego do 2º século d.C., misturando lenda e realidade, assinala uma fonte que chama de Calatos, situando-se próximo a Náuplia, no Peloponeso, na qual Hera se banhava para parecer sempre jovem e bela a Zeus, seu marido. Para alguns, era o próprio Zeus quem metamorfoseava uma ninfa em água, rejuvenescendo quem nela se banhasse.
Quem tem, sabe. Basta uma piscina para se dispor ao alcance da mão, de uma espécie de fonte da juventude. É impossível das umas braçadas, ensaiar uns mergulhos, estirar-se ao sol e não esquecer os problemas, o estresse cotidiano, o trânsito caótico, a cotação da bolsa. Enfim, sentir-se remoçado. Tanto é assim, que, ao se referir à lenda da fonte da juventude, o pintor alemão Lucas Cranach, o Velho, famoso pelos retratos que fez de seu amigo, o reformador Martinho Lutero, não teve dúvidas e a representou como uma piscina repleta de banhistas. É um quadro sugestivo, com a magnífica paisagem na parte superior e, no primeiro plano, uma grande piscina ladeada de degraus, com uma coluna - e uma pequena estátua - ao fundo. À esquerda, pessoas idosas e doentes chegam em carroções e padiolas. Entram na água e então se dá o milagre do rejuvenescimento. Os sinais do tempo se perdem e voltam a ser jovens.
Cranach aludia a um dos grandes mitos da humanidade, um tema recorrente, que tanto comparece na mitologia suméria quanto na grega. Afinal, a juventude é mais preciosa que o mais precioso dos metais, já que o ser humano, empreendedor por natureza e apegado à vida, nunca aceitou a velhice e a morte. Personagens como Dorian Gray, do irlandês Oscar Wilde, fazem qualquer tipo de pacto para não envelhecer. No clássico sumério "Gilgamesh", do 3º milênio a.C., a mais antiga obra literária conhecida, o herói de mesmo nome procura uma fonte milagrosa que cura e torna imortal. E Pausânias, geógrafo e historiador grego do 2º século d.C., misturando lenda e realidade, assinala uma fonte que chama de Calatos, situando-se próximo a Náuplia, no Peloponeso, na qual Hera se banhava para parecer sempre jovem e bela a Zeus, seu marido. Para alguns, era o próprio Zeus quem metamorfoseava uma ninfa em água, rejuvenescendo quem nela se banhasse.
Por veses, a lenda da fonte da juventude se confunde com o mito hebraico do rio da imortalidade. Alexandre, o Grande, teria procurado pela fonte da juventude - ou pelo rio da imortalidade - durante sua campanha na Índia. Lógico que nada encontrou, pois morreu pouco depois, de febre, aos 33 anos. Do jeito que o mito existe no Ocidente, parece que se origina da lenda do poço hindu da juventude, datada de cerca de 700 a.C., desenvolvida no norte da Índia e preservada em velhos escritos, de onde alcançou a Europa por meio de viajantes e mercadores. Durante a Idade Média, por meio dos romances de cavalaria, estava disseminada pelo continente europeu, assumindo dimensões tão realistas que teria sido uma das razões pelas quais Fernando e Isabel, os Reis Católicos, patrocinaram as viagens de Cristóvão Colombo. A fonte da juventude estaria na América. Bastaria encontrá-la. Aliás, o próprio Éden estaria na América, afirma Sérgio Buarque de Holanda em Visão do Paraíso.
Segundo o historiador paulista, as narrativas medievais afirmam que junto ao paraíso terrestre existia a fonte de Juventa, que se reportava à deusa romana da juventude. "Quem provasse por três vezes daquelas águas, achando-se em jejum, ficaria livre de quaisquer enfermidades e passaria a viver como se não tivesse mais de 32 anos." Ora, se o Éden ficava na recém-descoberta América, era natural que a fonte de Juventa, que estaria a três dias de viagem dos jardins do paraíso, também ficava. Assim, numa época de vida mais breve e sem maiores recursos médicos, urgia encontrá-la para não envelhecer e morrer. O explorador espanhol Juan Ponce de León (1460-1521) tinha mais de 50 anos quando empreendeu a procura da fonte da juventude e do rio da imortalidade - os mitos, como se vê, confundem-se. "Como quem quer corrigir os estragos do corpo", escreveu Buarque de Holanda, Ponce de León julgou-se capaz de "localizar o mais breve caminho para a sagrada fonte e para o rio onde os velhos se revigoram e remoçam".
Havia tradições indígenas que, coincidentemente, ligavam-se à lenda européia da fonte da juventude, situando-a na ilha de Bimini, ao norte. Ponce de León, à frente de dois navios equipados e tripulados às suas expensas, partiu do porto de San German, em Porto Rico, ilha que tinha conquistado e governado, no dia 3 de março de 1513. A expedição contava com o apoio do rei Fernando, que autorizava o explorador a povoar e governar Bimini, ao mesmo tempo que lhe garantia poder perpétuo sobre a ilha - se a encontrasse. Seguindo para noroeste e costeando as ilhas de Hispaniola e Cuba, avistou as Bahamas, explorando-as por quase um mês. Em 2 de abril, dias depois da Páscoa, a Pascua Florida (Páscoa das Flores), avistou uma costa que não esperava encontrar e a batizou de La Florida. Era a Flórida. Desceu à terra, na região da atual St. Augustine, nordeste da península, a primeira cidade norte-americana, e por alguns dias procurou pela fonte da juventude, mas também por ouro e prata.
Afinal, Ponce de León encontrou ou não a fonte da juventude? Há quem diga que não só descobriu como bebeu de sua água, que lhe teria feito tão bem que acreditava se tratar mesmo da fonte que deixava as pessoas eternamente jovens. Segundo alguns guias turísticos, o Fountain of Youth Park (155 Magnolia Avenue), em St. Augustine (160 km de Orlando, 500 km de Miami), com sua fonte natural sob uma abóboda de conchas, guarda o manancial tão procurado - se non è vero, è ben trovato. É até possível provar da água ou comprá-la engarrafada. Mas não consta que alguém tenha rejuvenescido. Depois, o Estado da Flórida possui cerca de 320 fontes de água pura e rica em minerais. Qual seria a fonte de Ponce de León? Ainda hoje, há quem procure pela fonte, como atesta o livro Lost Fountain - Researching the Legend (Fonte Perdida - Pesquisando a Lenda), de Duane K. McCullough.
McCullough, um norte-americano interessado por civilizações perdidas, como a Atlântida, cita outros personagens contemporâneos de Ponce de León envolvidos com a lenda. Como o italiano Pietro Martire d´Anghiera, para quem a fonte que ajudaria a combater os males físicos se situaria num único lugar, na parte superior do Caribe. Segundo Buarque de Holanda, Anghiera "alude ao caso sucedido a certo homem carregado dos achaques da velhice, o qual, tendo ido a provar das águas da fonte, voltou inteiramente recuperado e ainda se casou de novo e teve filhos". Ou o espanhol Ernando Fontaneda, que se refere a uma fonte ou lagoa situada em algum lugar ao norte de Cuba em que daria energia juvenil a quem nela se banhasse. Ou ainda, ao também espanhol Antonio Herrera, que evoca as explorações de Ponce de León e cita a fonte da juventude. Para McCullough, a fonte estaria na região de Key Lardo, nas Florida Keys, extremo sul do Estado, e seu poder se explicaria pelo fato de as águas conterem traços de ouro misturados ao sal marinho.
Se Ponce de León bebeu da água da fonte de juventude ou nela se banhou, de nada lhe valeu. ele retornou à "ilha da Flórida" em 1514 e 1521, em ambas as vezes a incumbência de colonizá-la. Na primeira vez, não foi bem-sucedido; na segunda, foi ainda pior. Ponce de León e seus homens, cerca de 200, foram atacados por um grupo de calusas ou mayaidras e o explorador foi ferido, vindo a morrer em Cuba. Está sepultado em San Juan, Porto Rico, cidade que fundou em 1508. Ponce de León pode não ter descoberto a fonte da juventude, mas sem dúvida descobriu uma fonte de juventude, que é o Estado da Flórida. Com seus parques e seu clima ensolarado, com a absurda média de 360 dias de sol por ano em alguns pontos e seu jeito de eternas férias, é uma "fonte de juventude" procurada anualmente por cerca de 40 milhões de turistas. Basta pôr o pé no Magic Kingdom, em Walt Disney World, Orlando, para voltar a ser criança. Talvez por isso é que é o Estado preferido dos idosos - um em cada cinco cidadãos é da Terceira Idade.
Há quem descreva a fonte da juventude como uma nascente ou um pequeno lago. E há quem, como Lucas Cranach, o Moço, a descreva como uma piscina, em equipamento que, desde os romanos, com suas célebres termas, existe para preservas a saúde e propiciar, ao menos figuradamente, a eterna juventude. Estão aí as estações de águas, que curam os males mais diversos e são cada vez mais procuradas por gente de todas as idades, para provar que a lenda da fonte da juventude ainda mantém todo o fascínio, todo o apelo. Afinal, quem é que não quer frear o fluxo do tempo?
Segundo o historiador paulista, as narrativas medievais afirmam que junto ao paraíso terrestre existia a fonte de Juventa, que se reportava à deusa romana da juventude. "Quem provasse por três vezes daquelas águas, achando-se em jejum, ficaria livre de quaisquer enfermidades e passaria a viver como se não tivesse mais de 32 anos." Ora, se o Éden ficava na recém-descoberta América, era natural que a fonte de Juventa, que estaria a três dias de viagem dos jardins do paraíso, também ficava. Assim, numa época de vida mais breve e sem maiores recursos médicos, urgia encontrá-la para não envelhecer e morrer. O explorador espanhol Juan Ponce de León (1460-1521) tinha mais de 50 anos quando empreendeu a procura da fonte da juventude e do rio da imortalidade - os mitos, como se vê, confundem-se. "Como quem quer corrigir os estragos do corpo", escreveu Buarque de Holanda, Ponce de León julgou-se capaz de "localizar o mais breve caminho para a sagrada fonte e para o rio onde os velhos se revigoram e remoçam".
Havia tradições indígenas que, coincidentemente, ligavam-se à lenda européia da fonte da juventude, situando-a na ilha de Bimini, ao norte. Ponce de León, à frente de dois navios equipados e tripulados às suas expensas, partiu do porto de San German, em Porto Rico, ilha que tinha conquistado e governado, no dia 3 de março de 1513. A expedição contava com o apoio do rei Fernando, que autorizava o explorador a povoar e governar Bimini, ao mesmo tempo que lhe garantia poder perpétuo sobre a ilha - se a encontrasse. Seguindo para noroeste e costeando as ilhas de Hispaniola e Cuba, avistou as Bahamas, explorando-as por quase um mês. Em 2 de abril, dias depois da Páscoa, a Pascua Florida (Páscoa das Flores), avistou uma costa que não esperava encontrar e a batizou de La Florida. Era a Flórida. Desceu à terra, na região da atual St. Augustine, nordeste da península, a primeira cidade norte-americana, e por alguns dias procurou pela fonte da juventude, mas também por ouro e prata.
Afinal, Ponce de León encontrou ou não a fonte da juventude? Há quem diga que não só descobriu como bebeu de sua água, que lhe teria feito tão bem que acreditava se tratar mesmo da fonte que deixava as pessoas eternamente jovens. Segundo alguns guias turísticos, o Fountain of Youth Park (155 Magnolia Avenue), em St. Augustine (160 km de Orlando, 500 km de Miami), com sua fonte natural sob uma abóboda de conchas, guarda o manancial tão procurado - se non è vero, è ben trovato. É até possível provar da água ou comprá-la engarrafada. Mas não consta que alguém tenha rejuvenescido. Depois, o Estado da Flórida possui cerca de 320 fontes de água pura e rica em minerais. Qual seria a fonte de Ponce de León? Ainda hoje, há quem procure pela fonte, como atesta o livro Lost Fountain - Researching the Legend (Fonte Perdida - Pesquisando a Lenda), de Duane K. McCullough.
McCullough, um norte-americano interessado por civilizações perdidas, como a Atlântida, cita outros personagens contemporâneos de Ponce de León envolvidos com a lenda. Como o italiano Pietro Martire d´Anghiera, para quem a fonte que ajudaria a combater os males físicos se situaria num único lugar, na parte superior do Caribe. Segundo Buarque de Holanda, Anghiera "alude ao caso sucedido a certo homem carregado dos achaques da velhice, o qual, tendo ido a provar das águas da fonte, voltou inteiramente recuperado e ainda se casou de novo e teve filhos". Ou o espanhol Ernando Fontaneda, que se refere a uma fonte ou lagoa situada em algum lugar ao norte de Cuba em que daria energia juvenil a quem nela se banhasse. Ou ainda, ao também espanhol Antonio Herrera, que evoca as explorações de Ponce de León e cita a fonte da juventude. Para McCullough, a fonte estaria na região de Key Lardo, nas Florida Keys, extremo sul do Estado, e seu poder se explicaria pelo fato de as águas conterem traços de ouro misturados ao sal marinho.
Se Ponce de León bebeu da água da fonte de juventude ou nela se banhou, de nada lhe valeu. ele retornou à "ilha da Flórida" em 1514 e 1521, em ambas as vezes a incumbência de colonizá-la. Na primeira vez, não foi bem-sucedido; na segunda, foi ainda pior. Ponce de León e seus homens, cerca de 200, foram atacados por um grupo de calusas ou mayaidras e o explorador foi ferido, vindo a morrer em Cuba. Está sepultado em San Juan, Porto Rico, cidade que fundou em 1508. Ponce de León pode não ter descoberto a fonte da juventude, mas sem dúvida descobriu uma fonte de juventude, que é o Estado da Flórida. Com seus parques e seu clima ensolarado, com a absurda média de 360 dias de sol por ano em alguns pontos e seu jeito de eternas férias, é uma "fonte de juventude" procurada anualmente por cerca de 40 milhões de turistas. Basta pôr o pé no Magic Kingdom, em Walt Disney World, Orlando, para voltar a ser criança. Talvez por isso é que é o Estado preferido dos idosos - um em cada cinco cidadãos é da Terceira Idade.
Há quem descreva a fonte da juventude como uma nascente ou um pequeno lago. E há quem, como Lucas Cranach, o Moço, a descreva como uma piscina, em equipamento que, desde os romanos, com suas célebres termas, existe para preservas a saúde e propiciar, ao menos figuradamente, a eterna juventude. Estão aí as estações de águas, que curam os males mais diversos e são cada vez mais procuradas por gente de todas as idades, para provar que a lenda da fonte da juventude ainda mantém todo o fascínio, todo o apelo. Afinal, quem é que não quer frear o fluxo do tempo?
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