João Guilherme Estrella chegou a ganhar 1 milhão de dólares com o tráfico de maconha e cocaína no rio de janeiro, nos anos 80 e 90. Gastou tudo “na vida”. Foi preso. Cumpriu pena. Diz-se recuperado. E agora sua incrível história chega ao cinema.
São 2h30 da tarde. De bermuda e chinelos, o produtor musical João Guilherme Estrella, de 46 anos, recepciona a equipe de reportagem de QUEM na porta de uma mansão na Praia de Geribá, em Búzios, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Ele diz que a casa foi emprestada por um amigo para sua rápida estada na cidade. Acabou de tomar o café-da-manhã, depois de uma longa noite acordado. 'Dormi às 5h. Fui a uma festa maravilhosa. Tocou de tudo', diz, coçando os olhos. Mas trata logo de esclarecer que deixou no passado a vida de ostentação e baladas que teve na época em que era traficante de drogas. Sim, João Guilherme foi, do final dos anos 80 até 1995, o maior fornecedor de cocaína e maconha da Zona Sul carioca, segundo a imprensa especializada em cobertura policial da época. Sua história chega aos cinemas neste 4 de janeiro, com o título Meu Nome Não É Johnny, adaptação do cineasta Mauro Lima para a biografia homônima escrita pelo jornalista Guilherme Fiúza.
Logo nos primeiros minutos de conversa, João Guilherme mostra os traços que devem ter ajudado a fazer carreira no crime: é extremamente inteligente e carismático. 'Eram essas as minhas armas', afirma. Selton Mello, que o interpreta no longa, concorda: 'Podem até me criticar, dizendo que dei um tom de humor ao personagem. Mas ele é assim, de um carisma natural impressionante'.
'Minha mãe descobriu maconha no meu quarto, mas nunca discutimos o assunto a sério. A gente não tinha esse tipo de diálogo.'
Quando fala sobre seu passado, João Guilherme assume um tom confessional, tentando achar argumentos que justifiquem sua trajetória. Diz que cresceu sem limites, um jovem da classe média carioca, morador do Leblon, filho de um diretor do extinto Banco Nacional e de uma dona de casa. Fumou maconha pela primeira vez aos 15 anos. 'Lembro como se fosse ontem. Estava com medo de que algum policial me parasse na praia, que a 'onda' fosse forte', diz ele, que afirma não se drogar desde que foi preso, em 1995. 'Não entrava nada na cadeia, não tinha o que cheirar. Hoje, só bebo de vez em quando e, em raras ocasiões, acendo um cigarro.'
VISTA GROSSA
Antes de começar a traficar, aos 19 anos, João Guilherme entrou na PUC, mas não concluiu o curso de comunicação social. Preferiu a criminalidade. A essa altura, já era conhecido em seu grupo de amigos pelas festas que organizava no apartamento da família, no Leblon, para vender drogas. Começou a traficar para financiar o próprio vício. A família fez vista grossa. 'Minha mãe descobriu maconha no meu quarto, mas nunca discutimos o assunto a sério. A gente não tinha esse tipo de diálogo', diz. Com o tempo, o 'negócio' cresceu e ele passou a usar o dinheiro para comprar roupas de grife, jóias para a namorada e financiar viagens. 'Eu era um típico playboy. O lucro ia todo para as noitadas.' Numa das vezes em que policiais fizeram uma varredura em sua casa, quando ele já morava sozinho, em Copacabana, seu apartamento estava sem luz, água e telefone. Não havia sobrado nada para pagar as contas.
TRAFICANTE DURO
'Como podia o maior traficante do Rio de Janeiro não ter nem luz em casa? Nunca fui apegado a dinheiro. Foi isso que me salvou', diz ele, que foi condenado a quatro anos de prisão, convertidos em dois anos cumpridos no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho, no Complexo Penitenciário Frei Caneca. É que não se comprovou seu 'envolvimento comercial com as drogas'.
Mesmo escapando de uma carceragem convencional, encarou uma rotina barra-pesada. O filme mostra uma cena em que ele impede que um colega de prisão mate outro. 'Eu segurei o cara antes que jogasse um televisor na cabeça do sujeito', afirma. 'Teve vários outros episódios como esse, até mais fortes. Não dava pra ficar tranqüilo, estava cercado de gente perigosa e louca, sem limites para seus atos. Se desconfiassem que alguém era delator, partiam pra agressão sem questionar', diz. Estrella passava o tempo lendo ou jogando futebol. Como teve bom comportamento, recebeu indulto de Natal em 1996 e pôde passar as festas de final de ano com a família. 'O difícil foi voltar pra acabar de cumprir a pena.'
REENCONTRO
Ironicamente, Estrella ficou sabendo há pouco tempo que o policial que o pegou acabou preso por corrupção. 'E eu tô solto', brinca. Também deparou recentemente com outro fantasma do passado, a ex-namorada Sofia, que o deixou quando ele foi para a prisão. No cinema, ela é vivida por Cleo Pires.
'Como podia o maior traficante do Rio de Janeiro não ter nem luz em casa? Nunca fui apegado a dinheiro. Foi isso que me salvou.'
A comparação com a vida real é inevitável. 'Houve uma licença poética na escalação do elenco. Sofia não era tão bonita quanto a Cleo. Dia desses, estava almoçando num restaurante, no Rio, com a minha mulher, quando vi a Sofia. Apenas nos cumprimentamos de longe. Não a procurei mais, não sei como ela está', diz. A advogada Carla Meirelles, de 36 anos, com quem João Guilherme está casado há quatro anos, não gosta de falar sobre seu envolvimento com ele. 'Ainda não me acostumei com a idéia de ter alguém famoso ao meu lado.' O ex-traficante diz que a reação dela é parecida com a de sua mãe, Maria Luiza. 'Minha mãe brinca dizendo que não é para eu 'vendê-la' junto com a minha história. Mas, quando foi ver o filme, chorou junto comigo.'
Enquanto vai se readaptando aos holofotes da mídia, João Guilherme aproveita para engatar seu trabalho, desta vez dentro da lei. Ele está lançando um CD de pop-rock pela gravadora EMI, com músicas de sua autoria e releituras de grupos como Secos e Molhados e Capital Inicial.
OUTRA CARREIRA
Há dez anos em liberdade, ele afirma que se sustenta como produtor musical, cantor e empresário do sambista Ivo Meirelles. Está certo de que nunca voltará a ter em mãos mais de 1 milhão de reais, quantia que ganhou com o tráfico e gastou em viagens à Europa. Diz que se contenta com a vida que leva atualmente, morando com a mulher num apartamento de quarto e sala alugado no Bairro Peixoto, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O carro que tinha, um Passat 2003, foi vendido em 2006 para financiar uma lua-de-mel em Portugal, na Espanha e na França.
João Guilherme afirma que não se arrepende de nada. E fala isso olhando para o infinito, com um discreto sorriso no canto da boca, que pode até ser interpretado como uma certa dose de cinismo. 'Só não faria tudo de novo. É que não gosto de rotina, e repetir o que vivi seria um marasmo.' O celular toca, e um amigo avisa que está voltando para o Rio. Sem carro, João depende de carona. Mas isso não parece perturbá-lo. 'Depois eu vejo o que fazer. Quero aproveitar um pouco mais o sol deste final de tarde.'
Visitem o site: http://www.joaoestrela.com.br/
ele realmente nao era bom da bola.
ResponderExcluiradorei a sua estória.
ResponderExcluirtu éo melhor sua história é show
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