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segunda-feira, 17 de maio de 2010

:: Villa-Lobos ::

Filho da dona-de-casa Noêmia Villa-Lobos e do funcionário da Biblioteca Nacional e músico amador Raul Villa-Lobos, Heitor Villa-Lobos nasce a 5 de março de 1887, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro.

Além da cidade do Rio de Janeiro, Villa-Lobos reside com a família em cidades do interior do estado do Rio de Janeiro (Sapucaia) e de Minas Gerais (Cataguazes e Bicas) durante os anos de 1892-1893. Nessas viagens, conhece as modas caipiras e os tocadores de viola, que formam parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, vem a universalizar-se em suas obras.

Ao retornarem ao Rio de Janeiro, os Villa-Lobos transformam sua casa num ponto de encontro de nomes respeitados da época, que ali se reúnem, todos os sábados, para tocar até altas horas da madrugada. Esse hábito, que dura anos, influi decisivamente na formação musical de Villa-Lobos que, logo cedo, inicia-se na música.

A partir dos seis anos de idade, aprende, com o pai, a tocar clarinete e violoncelo (este último em uma viola especialmente adaptada). Raul Villa-Lobos ainda lhe obriga a exigentes exercícios de percepção musical que incluem o reconhecimento de gênero, estilo, caráter e origem de músicas, de notas musicais e ruídos.

Foi também nessa época, e graças à sua tia Fifina (que lhe apresenta os prelúdios e fugas do "Cravo Bem Temperado"), que Tuhú (seu apelido de infância) fascina-se pela obra de Johann Sebastian Bach, compositor que acaba por servir-lhe de fonte de inspiração para a criação de um de seus mais importantes ciclos, o das nove "Bachianas Brasileiras".
Ao voltar ao Rio de Janeiro, a música praticada nas ruas e praças da cidade também passa a exercer sobre ele um atrativo especial. É o "choro", composto e executado pelos "chorões", músicos que se reunem regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval. Tal interesse leva-o a estudar violão escondido de seus pais, que não aprovam sua aproximação com os autores daquele gênero, considerados marginais.

No início dos anos 20, como conseqüência desse envolvimento com o choro, começa a compor um ciclo de quatorze obras, para as mais diversas formações, intitulado "Choros"; nasce aí uma nova forma musical, onde aquela música urbana se mescla a modernas técnicas de composição.

Com a morte de Raul Villa-Lobos, em 1899, Noêmia não consegue mais conter o filho.

Em 1905, Villa-Lobos parte em viagens pelo Brasil. Visita os estados do Espírito Santo, Bahia e Pernambuco, passando temporadas em engenhos e fazendas do interior, em busca do folclore local.

Em 1908, chega à cidade de Paranaguá, estado do Paraná, lá permanecendo por dois anos, tocando violoncelo para a alta sociedade local e violão para os jovens.

Entre os anos de 1911 e 1912 faz parte de uma excursão pelo interior dos estados do Norte e do Nordeste. É nesse momento que conhece a Amazônia - fato ainda não comprovado - o que marca, segundo ele, profundamente sua obra.

De volta ao Rio de Janeiro, conhece aquela com quem se casa em 1913: Lucília Guimarães.
O ano de 1915 marca o início da apresentação oficial de Villa-Lobos como compositor, com uma série de concertos no Rio de Janeiro. Na época, casado com a pianista Lucília Guimarães, ganha a vida tocando violoncelo nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas, ao mesmo tempo em que escreve suas obras. Os jornais publicam críticas contra a modernidade de sua música. Anos mais tarde, o compositor faz questão de explicar:

"Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias".

No Brasil do início do século XX, a influência européia (mais especificamente, francesa) e a permanência do espírito conservador do fim do século XIX incomodam a juventude, que começa a reagir a tudo isso. Surge, então, um movimento chamado Modernista que, em fevereiro de 1922, é oficializado em São Paulo, através da Semana de Arte Moderna. Atividades de vários campos da arte são apresentadas no Theatro Municipal daquela cidade.
Convidado por Graça Aranha, Villa-Lobos aceita participar dos três espetáculos da "Semana", apresentando, dentre outras obras, as "Danças Características Africanas".

Já bastante conhecido no meio musical brasileiro, alguns de seus amigos começam a incentivá-lo a ir à Europa, e apresentam à Câmara dos Deputados um projeto para financiar sua ida a Paris. Em meio a protestos que condenam a iniciativa, a proposta é aprovada e Villa-Lobos parte, em 1923, para o que seria sua primeira viagem ao Velho Continente. Ao chegar, Debussy - uma de suas grandes inspirações - já não é mais vanguarda, e artistas e intelectuais da efervescente capital francesa voltam seus olhos e ouvidos para os compositores russos, como Igor Stravinsky, que fazem música original, moderna e de caráter nacionalista.

Desconhecido, Villa-Lobos começa a entrar no ambiente artístico parisiense através de Tarsila do Amaral e de outros artistas plásticos brasileiros; Arthur Rubinstein - que já o conhece do Brasil - e o soprano Vera Janacópulos divulgam suas obras em recitais por vários países.

Em função de um drástico corte no orçamento inicial solicitado, e apesar do apoio financeiro de um grupo de amigos e mecenas, Villa-Lobos se vê, em 1924, forçado a voltar ao Rio de Janeiro. Em sua chegada ao Brasil, é assim saudado pelo poeta Manuel Bandeira:

"Villa-Lobos acaba de chegar de Paris. Quem chega de Paris espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto, Villa-Lobos chegou cheio de Villa-Lobos. Todavia uma coisa o abalou perigosamente: a 'Sagração da Primavera', de Stravinsky. Foi, confessou-me ele, a maior emoção musical da sua vida.(...)".

Em 1927, o compositor retorna a Paris para uma temporada de três anos, desta vez em companhia de Lucília Villa-Lobos, para organizar concertos e publicar várias obras pela editora Max-Eschig, à qual é apresentado quando de sua primeira ida à França. Faz mais amigos, e artistas como Magda Tagliaferro, Leopold Stokowski, Maurice Raskin, Edgar Varèse, Florent Schmitt e Arthur Honneger freqüentam sua casa e participam das feijoadas dos domingos.

A partir dessa segunda temporada na capital francesa, ganha prestígio internacional, apresentando suas composições em recitais e regendo orquestras nas principais capitais européias. Causa forte impressão no público e na crítica, ao mesmo tempo em que provoca reações por suas ousadias musicais.

No segundo semestre de 1930, Villa-Lobos - a convite - retorna ao Brasil, provisoriamente, para a realização de um concerto em São Paulo. Contudo, não prevê que, neste seu retorno, está inaugurando um novo capítulo em sua biografia.

Villa-Lobos preocupa-se com o descaso com que a música é tratada nas escolas brasileiras e acaba por apresentar um revolucionário plano de Educação Musical à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A aprovação do seu projeto leva-o a mudar-se definitivamente para o Brasil.

Em 1931, reunindo representações de todas as classes sociais paulistas, organiza uma concentração orfeônica chamada "Exortação Cívica", com a participação de cerca de 12 mil vozes.

Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente por Anísio Teixeira, então Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, para organizar e dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), que introduz o ensino da música e do canto coral nas escolas.

Como conseqüência do seu trabalho educativo, embarca para a Europa, em 1936, como representante do Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga.

De retorno ao Brasil, ainda em 1936, une-se à sua secretária, Arminda Neves d'Almeida.

Com o apoio do então presidente da República, Getúlio Vargas, organiza concentrações orfeônicas grandiosas que chegam a reunir, sob sua regência, até 40 mil escolares, e, em 1942, cria o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, cujos objetivos são: formar candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias; estudar e elaborar diretrizes para o ensino do canto orfeônico no Brasil; promover trabalhos de musicologia brasileira; realizar gravações de discos etc.

"Irei aos Estados Unidos somente quando os americanos quiserem me receber como eles recebem a um artista europeu, isto é, em razão das minhas próprias qualidades e não por considerações políticas...".

Apesar dessa resistência inicial - é o momento da chamada "política da boa vizinhança" praticada pelos EUA com aliados na 2ª Guerra Mundial -, Villa-Lobos, convencido pelo maestro Leopold Stokowski, aceita o convite do maestro norte-americano Werner Janssen para uma turnê pelos EUA, em 1944.

A partir daí, retorna àquele país várias vezes, onde rege e grava suas obras, recebe homenagens e encomendas de novas partituras, além de estabelecer contato com grandes nomes da música norte-americana, fechando, assim, o ciclo de sua consagração internacional.

Villa-Lobos morre de câncer, em 17 de novembro de 1959, no Rio de Janeiro.

"Era um espetáculo. Tinha algo de vento forte na mata, arrancando e fazendo redemoinhar ramos e folhas; caía depois sobre a cidade para bater contra as vidraças, abri-las ou despedaçá-las, espalhando-se pelas casas, derrubando tudo; quando parecia chegado o fim do mundo, ia abrandando, convertia-se em brisa vesperal, cheia de doçura. Só então percebia que era música, sempre fora música".

Crônica de Carlos Drummond de Andrade
publicada quando Villa-Lobos morreu.

Fonte: Museu Villa Lobos

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