"Os membros da nossa Sociedade não estarão restritos a geógrafos profissionais, mas incluirão aquele grande número de pessoas que, como eu, desejam promover pesquisas especiais conduzidas por outrem, e servirá para difundir o conhecimento (...) de modo que todos nós possamos entender melhor o mundo em que vivemos."
GARDINER GREENE HUBBARD
Do topo do monte Everest às profundezas do oceano, do mundo pelas lentes de um microscópio às estrelas nas galáxias mais distantes, a National Geographic Society traz informações sobre "o mundo e tudo que há nele" há mais de um século. Mais de dez milhões de membros, além do público mundial que não pára de crescer, recorrem às revistas, aos livros, ao canal de televisão, aos produtos educacionais e ao site da National Geographic Society para aumentar seu conhecimento sobre a terra, o mar e o céu, para se surpreender e se admirar.
A semente deste alcance global foi plantada na capital dos EUA, Washington D.C., no dia 13 de janeiro de 1888. Um grupo de 33 dos principais cientistas e intelectuais da cidade se reuniu no Cosmos Club naquela noite fria para discutir "a viabilidade da organização de uma sociedade para o crescimento e a difusão do conhecimento geográfico".
Eram homens apaixonados pelo tema, com profissões bem variadas: geólogos, geógrafos, meteorologistas, cartógrafos, banqueiros, advogados, naturalistas e integrantes das forças armadas. O que tinham em comum era o desejo de promover o estudo científico e disponibilizar os resultados para o público. Muitos estavam na casa dos 20 e dos 30 anos, e seguiam carreiras que os levavam a lugares muito distantes, em todos os sentidos, do Cosmos Club com seu pé-direito alto. Iam a tudo que é lugar em nome da ciência, mas sempre retornavam a Washington D.C. no outono [a partir de outubro no hemisfério Norte], deixando seus postos de pesquisa nos desertos do oeste, nas florestas do Alasca ou no meio do oceano. Washington D.C. sediava muitas das instalações de instituições preeminentes de ciência e pesquisa da época nos EUA: a Geological Survey [Pesquisa Geológica], a Coast and Geodetic Survey [Pesquisa Costeira e Geodinâmica], o Navy Hydrographic Office [Gabinete Hidrográfico da Marinha] e a Smithsonian Instituition [Instituição Smithsonian] - só para citar algumas delas. Nesses lugares, analisavam os dados obtidos, escreviam os resultados e buscavam financiamento para mais uma temporada em campo. Ajudavam a transformar a Washington de inverno em uma cidade vibrante de tanta atividade intelectual.
Os fundadores da National Geographic Society com toda a certeza personificavam o espírito de aventura e descoberta que passou a ser associado à organização. Entre seus membros estavam John Wesley Powell, famoso pela exploração pioneira do Grand Canyon, e Adolphus W. Greely, oficial-chefe de comunicações do Exército dos EUA e explorador polar reconhecido. Em 1882, durante uma expedição à baía de Lady Franklin, no Canadá, um integrante da expedição de Greely chegou ao ponto "mais setentrional" na corrida para alcançar o Pólo Norte. A expedição terminou em tragédia: apenas seis dos 25 homens sobreviveram às árduas provações da jornada e o próprio Greely teria morrido em poucas horas se não tivesse sido resgatado. Grove Karl Gilbert, o principal geólogo da nação, também estava na reunião do Cosmos Club, assim como Henry Gannett, cartógrafo renomado. George Kennan, ex-operador de telégrafo e explorador russo, tinha passado anos vivendo na Sibéria e escrevera um livro sobre a experiência. Kennan foi o único representante de uma profissão - a de jornalista - que certamente era considerada pela maior parte dos outros participantes como de pouca relevância para o futuro da organização.
Duas semanas depois do primeiro encontro no Cosmos Club, os fundadores elegeram o advogado e financista Gardiner Greene Hubbard como primeiro presidente da sociedade incipiente. Apesar de ele próprio não ser cientista, Hubbard tinha interesse aguçado pela ciência e era patrocinador dedicado da pesquisa científica; seu incentivo mais notável foi o financiamento e a promoção dos experimentos de seu genro, Alexander Graham Bell, professor de surdos que tinha inventado o telefone em 1875.
Em seu discurso de apresentação, Hubbard colocou ênfase no fato de não ter estudado ciência, e declarou: "Com a minha eleição, notifica-se ao público que os membros da nossa Sociedade não estarão restritos a geógrafos profissionais, mas incluirão aquele grande número de pessoas que, como eu, desejam promover pesquisas especiais conduzidas por outrem, e servirá para difundir o conhecimento assim adquirido, entre os homens, de modo que todos nós possamos entender melhor o mundo em que vivemos".
Ao mesmo tempo em que a National Geographic Society estabelecia metas tão elevadas, os Estados Unidos estavam prestes a inaugurar uma grande era de inovações e descobertas. Em 1888, Thomas Edison inventou o cinematógrafo, protótipo para o cinema, e George Eastman aperfeiçoou a câmera em forma de caixa e o rolo de filme preto e branco. Automóveis e aviões logo se transformariam em meios de transporte, e telégrafos e telefones estavam começando a modificar a maneira de as pessoas se comunicarem.
Ainda que uma boa parte do mundo não tivesse sido explorada, os cientistas estavam reunindo conhecimento em escala tremenda. Uma enorme quantidade de energia e otimismo estava no ar, assim como a crença passional de que a ciência tinha o poder de corrigir muitos dos defeitos sociais e econômicos da sociedade que entrava na era moderna.
A recém-formada National Geographic Society seria uma força neste evangelismo científico. Muitas associações científicas da época compartilhavam desta visão. O que faria com que a National Geographic Society se destacasse seria sua capacidade duradoura de despertar o explorador que existe dentro de cada um de nós. Isso permitiu que a organização se transformasse no que é hoje: uma das maiores associações científicas e educacionais do globo, que fornece uma janela para as maravilhas do mundo e influencia a vida de milhões de pessoas.
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